terça-feira, 29 de novembro de 2011

Comunidade respira o surto da Leishmania



Gleydson SOuza
Jornal O Cidadão

No povoado de 75 famílias em Tauaporanga no município de Barcarena, o clima é de tensão porque um surto de leishmaniose visceral - calazar- está assustando a população da localidade. Os moradores estão alerta, porque, apesar de os sintomas já terem se manifestado há vários meses, somente agora a Secretária de Saúde, após atender um dos pacientes que saíram do povoado, conseguiu diagnosticar a doença que está assustando a população.
Hoje cerca de seis casos humanos foram apontados pela comunidade, porém, apenas um confirmado. A maioria dos casos de calazar foi registrada em crianças e adolescentes. A notícia se espalhou e, segundo os moradores, há quem já evite visitar a comunidade temendo pegar a doença.
A leishmaniose é uma doença não contagiosa causada por parasitas, protozoário Leishmania, que invadem e se reproduzem dentro das células que fazem parte do sistema imunológico (macrófagos) da pessoa infectada devido a picada do mosquito-palha Flebótomo. A doença pode ficar incubada de dois até quatro meses, é um ciclo que passa do mosquito para cão em seguida para o humano. E quando diagnosticado o animal será sacrificado e o humano passará por um tratamento de 40 dias.
Conforme o calendário da Secretaria de Saúde e Epidemia do município existe uma forma que está sendo implantada dentro da comunidade para monitorar a quantidade de mosquito transmissor da doença. O monitoramento e dado através de um recipiente luminoso que é posto em uma determinada área a partir das 17h, para que possa ser feito o levantamento da quantidade existente de mosquito, só então que será liberada a dedetização das casas.
Segundo o supervisor de campo do calazar Jeferson Zico, existe um percentual analisado para que seja feito o trabalho de prevenção. “Hoje nos trabalhamos com um índice de transmissão, que é uma media de casos humanos.Entre 2.4 e 4.4, são considerados bairros moderados e acima de 4.4 são intenso, então todos esses bairros moderados e intenso, são trabalhado na sua totalidade com a prevenção”, completa Jeferson.
Sem muito esclarecimento e conhecimento a comunidade reclama da falta de informação sobre o caso. "A gente nem sabia o que era isso, não entendia que a doença era grave. Achava que podia dar qualquer remédio que a pessoa se curava, mas não é bem assim. A gente agora sabe que não pode deixar de cuidar, senão a doença pode matar qualquer pessoa", assegurou o morador do povoado José Francisco da Silva.

Área
O que a população da localidade de Tauaporanga desconhecia até pouco tempo é que o calazar é uma doença quase exclusiva das áreas rurais, mas que está se urbanizando devido o crescimento, desmatamento e a transformação climática. Com isso a emigração do homem da Zona Rural às grandes áreas metropolitanas com o Flebótomo é a verdadeira causa do aparecimento do calazar com todas as suas implicações à saúde pública.
A consultora de vendas Ana Claudia, acredita que possa existir uma deficiência nos programas públicos de saúde. “Muito mais do que um problema para a saúde do homem, a propagação do calazar e os altos índices da doença entres os cães demonstram fragilidade dos programas de saúde pública, porque os cães não podem ser apontados como únicos responsáveis pela propagação da doença. A sujeira e o lixo também contribuem para a multiplicação do mosquito transmissor do mal além da falta de conscientização da parte competente de saúde para com a população”, completa Ana Claudia que pouco menos de três meses perdeu dois cachorros vitima do calazar.
Casos
Durante o ano de 2010 o estado do Pará registrou 339 casos de Leishmaniose visceral e 2.489 casos de Leishmaniose tegumentar. Em relação ao ano passado, o estado teve um aumento de quase 20 %, já em 2011 os números foram de 249 da visceral e 2.919 tegumentar. No município de Barcarena foram 16 casos confirmados pela visceral e um caso de tegumentar em 2011 os casos de Leishmaniose tegumentar subiram para seis, sem nenhum agravante e 13 de Leishmaniose visceral.

Dificuldade de recolhimento do cão contaminado
Após ser diagnosticado que o animal está infectado, uma das dificuldades encontradas pelos poucos agentes de saúde é que os donos de cães infectados não os entregam para a eutanásia, morte do cão.
Sintomas
Os sintomas variam de acordo com o tipo da leishmaniose. No caso da tegumentar, surge uma pequena elevação avermelhada na pele que vai aumentando até se tornar uma ferida que pode estar recoberta por crosta ou secreção purulenta. Há também a possibilidade de sua manifestação se dar através de lesões inflamatórias no nariz ou na boca. Na visceral, ocorre febre irregular, anemia, indisposição, palidez da pele e mucosas, perda de peso, inchaço abdominal devido ao aumento do fígado e do baço.


Prevenção e Tratamento
O sacrifício dos animais é a única medida para combater a proliferação do protozoário, que causa a leishmaniose, já que os animais servem como reservatório da doença. Tirando-se o cão doente de circulação, se quebra a cadeia do mosquito transmissor, consequentemente a forma de proliferação, entre os outros cães e nos seres humanos.
Para evitar mais casos de calazar em humanos, pode ser feita a prevenção com o uso de mosquiteiros; telas finas em portas e janelas; evitar a freqüência na mata - principalmente no horário noturno - sem o uso de roupas adequadas; uso de boné, camisas de manga comprida, calças compridas e botas; além do uso de repelentes
A veterinária responsável pela identificação da doença na comunidade, Maria de Nazaré ressalta a importância de manter os quintais limpos, não jogar lixo na beiras das estradas. “Uma outra forma de se proteger, além de usar o mosquiteiro, repelente é manter sempre limpo o quintal das casa, cuidar do animais para que não seja infectado pelo causador, usando andiroba e copaíba isso irá ajudar na proteção contra a doença”, afirma Maria de Nazaré.
Segundo a veterinária o processo consiste em três pontos, diagnóstico e tratamento dos humanos, eutanásia dos cães infectados e controle das densidades dos vetores através de inseticidas.
Hoje a Secretaria já disponibiliza o tratamento a domicilio diário para as pessoas que foram confirmadas a doença.

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